terça-feira, março 01, 2005

915 - Soneto da hera

Nesse corpo, hera de folhas desgrenhadas,
Subindo de vagar, pé ante pé, silencioso,
Sobre mim, expectante, contráctil, nervoso,
Ponho o olhar e as mãos conspurcadas.

Deposta a roupa, nua, coxas despertadas,
Tomo de um gole, torpe de desejo ocioso,
Ambos os seios de laje em copo sedoso,
Pelas minhas línguas duplas e insaciadas.

Avanço depois, entre a floresta virgem
Do teu sexo, rasa, opaca, ofegante,
Até que, exauridas, tuas pernas se tingem

De mim, do meu sémen e do meu suor.
E ínvios que somos, náuticos amantes,
Desconhecemos onde ir para deixar a dor.



921 - A ginasta

Flexíveis membros de vime, rosados, puros,
Agarro, dobro e vinco, e nem mesmo forçada,
A ginástica do seu corpo a deixa amarrotada,
Seus músculos exercitados são muito duros.

Os pequenos seios de pedra que, bem seguros
A completam, são de uma habilidade alada,
Entre saltos e movimentos de cor prateada,
Perante uma pequena plateia de olhos escuros.

Como é belo esse magro corpo de estatueta,
Enquanto dá, concentrada, mais uma pirueta,
Implodindo em minha quieta boca espantos.

É impossível o pouco que em meus braços
Ocupa, como se conhecesse todos os cantos
Deste corpo e se movesse entre os espaços.