terça-feira, agosto 09, 2005

985 - Soneto do silêncio I

Sentia-te crescer na manhã luminosa,
Os raios batiam na janela, mas ficavam
Lá fora esperando por entrar. Ondulavam
Sem parar e nós numa áurea nebulosa,

Degustávamos numa ânsia silenciosa
Os corpos devolutos que bruxuleavam
Nas sombras do quarto. Travavam
Guerras líquidas entre a língua argilosa

E uma outra língua por si indefinível.
Era a tua aquela que incapaz sempre fui
De descrever num êxtase irrepetível.

Nunca foi de silêncio o teu manto,
A tua boca tem uma força que o influi,
Nenhuma o quebra com tanto encanto.