segunda-feira, outubro 23, 2006

1169 – Soneto da eternidade

Corpo nu de névoa crua e lua nova,
Com a forma estreita de uma cama,
Estrela inverosímil que se renova
Em dias inocentes de qualquer trama.

És tu, meu amor a toda a prova,
Minha mulher que amo e me chama,
E se me comporto mal me sova
Fazendo-me crer que não me ama.

Entre lençóis és pálida, imperfeita
Nas rugas que se anunciam no rosto,
E como deixas teu corpo exposto

À intempérie do meu, pesado e lesto,
Mas amo-te mais quanto mais me aceita,
E envelhecendo mais te amo a tudo o resto.
1168 – Mostra-me como te amo

Mostra-me como te amo e te desejo,
Devagar, não há pressa neste amor vivo,
É a tua boca que me sacia com um beijo,
É do teu corpo que declaro ser cativo.

És novidade mesmo quando te vejo
Durante todo o dia, e contigo privo
Cada vontade, cada medo, cada ensejo
Contrário ao futuro que me esquivo.

Evidente és tu, que me declara amado,
No teu jeito simples, juvenil e puro,
Como um diáfano coração no ar desenhado.

Perdoa se me esqueço de ti despida,
Quero-te agora com um querer maduro,
Encoberto pelas distracções da vida.