domingo, novembro 27, 2005

1025 – Soneto da espera

Dormes mulher, simples e perfeita,
Num sonho apenas teu, toda em parte,
Dentro do sonho tornas-te desfeita,
Do duradouro zelo que a ti faz Marte.

Enquanto dormes, meu corpo suspeita,
Da intangível e moral matéria de olhar-te,
Deste perene elo de me seres eleita,
Sem que possa, carnalmente, tocar-te.

Fico quieto, no incandescente sossego
Dos meus desejos, conjecturando
Se por ti, todo o homem que sou, nego.

E tu, dormes ainda, será eternamente?
Alegro-me na manhã que está raiando,
E por costume acordares brevemente.