segunda-feira, abril 03, 2006

1091 - Soneto do desencontro

Nossos corpos ao desencontro deixados,
Remexidos de beijos e carícias,
Encontram-se nus, a prumo, desarrumados,
Daquele à sua frente ansiando notícias.

Vêem-se vivos os sexos por antecipados
Serem todos os gestos com malícias,
E da fome de carne, corpos desesperados,
Maltratam-se com inigualáveis sevícias.

Na confusão de bocas e de pernas,
De torsos longos, curvos e flavos,
Não há espaço para palavras ternas.

Comem-se, dessedentam-se, igualam-se,
Macerando mãos e línguas, sexos bravos,
E finalmente satisfeitos, calam-se.
1089 - Fuso

Todo o estro ao teu corpo confinado,
Sonhando dia e noite com o negro seixo
Do teu sexo, com o teu seio desnudado,
Para se servir do meu ígneo desleixo.

Rendido ao ávido desejo, apressado,
Beijo o teu pescoço e o teu queixo,
Sem poemas ou regras, arremessado,
Contra esse mágico fuso, o meu eixo.

Dilacero o teu sublime com obscenas
Palavras, se a cúpida vontade aperta,
E se não exprime no amor apenas.

Desculpa-me desse imenso que sou,
Mulher que amo, que me desperta,
Nesse corpo onde, perdido, estou.